Programa Mulheres Mil forma a primeira turma de estudantes transexuais, em Alagoas
Num mercado tradicionalmente dominado por homens – o de pintura de obras prediais –, um grupo de seis transexuais abre caminho para vencer o preconceito por meio da qualificação profissional e da inclusão econômica. São alunas da Turma da Diversidade do Mulheres Mil, programa do MEC focado na valorização de mulheres em situação de vulnerabilidade. A iniciativa é pioneira e partiu do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), que elaborou o projeto piloto junto a moradoras de Benedito Bentes, um bairro carente de Maceió, capital do estado.
“Promover a capacitação de mulheres transexuais e travestis por meio do programa Mulheres Mil é oferecer oportunidade de inserção ao mundo do trabalho e de inclusão social para pessoas em situações de vulnerabilidade não só em Alagoas, como em todo o país”, avalia a secretária de Educação Profissional e Tecnológica do MEC, Eline Nascimento. “O retorno dessas alunas às salas de aula é marcado pela sensibilidade e pela perseverança.”
Projetos – Dentre as transexuais matriculadas na Turma da Diversidade, Isadora Alves da Silva, 35 anos, alimenta boas expectativas: “Acho que, com o curso, as pessoas podem ver a gente com outros olhos”. Sua história tem traços em comum com a de outras colegas: precisou interromper os estudos para sustentar a família, chegou a se prostituir para sobreviver e, certamente, enfrentou preconceito. Atualmente, ganha a vida como cabelereira em um pequeno salão. Sua meta é buscar novos caminhos a partir da conclusão do curso de pintura de obras. “Quanto mais [capacitação] a gente tiver no currículo, melhor”, define.
Também matriculada na Turma da Diversidade, Drika Guedes, 25, já traçou os passos para quando sair do curso. Quer se dedicar à pintura artística de ambientes. “Inicialmente eu não tinha interesse neste curso, mas, como trabalho com desenho, sou maquiadora, achei viável”, diz. “A parte prática é muito boa. Ensinam o modo certo de desenhar.” Foram de Drika as ideias para a decoração de paredes de uma creche de Maceió, atividade que a turma desenvolveu, como projeto de conclusão de curso.
Centrada em seu objetivo – trabalhar com revitalização de interiores e com cenários –, Drika demonstra preparo para enfrentar resistências: “O preconceito não é como eu lido, mas como as pessoas lidam. Sempre tem olhares... O mercado ainda é muito preconceituoso, não apenas para as trans, mas para todas as mulheres”. Na turma, ela encontrou mulheres de várias idades, religiões e costumes, e relata que, apesar do receio inicial das transexuais em relação à receptividade, todas foram acolhidas e tiveram um tratamento igualitário em sala.
Pioneirismo – A ideia da Turma da Diversidade surgiu de uma demanda apresentada no Ifal pela gestora do Pronatec Mulheres Mil, Luiza Jaborandy. “Desde o início, tínhamos uma ou outra trans que nos procuravam, mas não sabíamos como agir, porque o programa é todo personalizado para mulheres”, lembra. “Para abrir a turma, preparamos todos os educadores e ensinamos as outras mulheres a respeitar as diferenças. Então, foi uma experiência muito rica.”
A seleção das transexuais ocorreu mediante parceria do Programa Mulheres Mil com a ONG Pró-Vida, que desenvolve projetos junto ao público LGBT em Alagoas. Formada por 28 mulheres, a Turma da Diversidade conclui o curso no fim de maio.
Assessoria de Comunicação Social do MEC
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